Cerimônia nesta sexta-feira (05), no Rio, reuniu autoridades, escritores e artistas
Ailton Krenak, um ambientalista, filósofo, poeta e escritor, tornou-se o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) desde a sua fundação há mais de 120 anos. A posse ocorreu nesta sexta-feira (05), na sede da instituição no Rio de Janeiro. A cerimônia contou com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes, juntamente com outras autoridades e acadêmicos.
"É muito simbólico participar desse ato. Krenak é um pensador, um estudioso e um conhecedor do Brasil profundo. Traz consigo a ancestralidade e o conhecimento. A Academia, a Cultura e todo o Brasil ganham com a posse dele hoje", declarou a chefe da Cultura.
Na cerimônia, Krenak foi honrado com o colar de imortal pela atriz Fernanda Montenegro, a espada pelo acadêmico Arnaldo Niskier, e o diploma por Antonio Carlos Secchin.
O renomado autor, conhecido por obras como "Ideias para Adiar o Fim do Mundo" e "A Vida Não É Útil", ocupará a cadeira 5, vaga desde o falecimento do historiador José Murilo de Carvalho no ano anterior. Essa cadeira já foi ocupada pela escritora Rachel de Queiroz, primeira mulher a integrar a ABL, de 1977 a 2003, e pelo médico Osvaldo Cruz, de 1912 a 1917.
Em seu discurso, o escritor citou o poema "Eu Sou Trezentos...", de Mário de Andrade, para abordar a diversidade dos povos originários que ele representa ao ingressar na ABL. Ele enfatizou: "Eu não sou apenas um, mas posso evocar mais de 300. Neste caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos passaram a ter a disposição de declarar: 'Estou aqui'. Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena".
Na eleição para a Academia, ocorrida em outubro de 2023, o candidato obteve 23 votos, superando a historiadora Mary Del Priore, que recebeu 12 votos, e o indígena Daniel Munduruku, que conquistou quatro votos.
Na cerimônia de posse, estiveram presentes o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, o Diretor do Instituto Guimarães Rosa (IGR), Ministro Marco Antonio Nakata, a Presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, e o Secretário-Executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena.
Também marcaram presença no evento o Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), Alexandre Santini, e o Secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC), Fabiano Piúba.
Causa indígena
O ativista indígena é originário de Itabirinha, localizada na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, berço do povo Krenak, região profundamente afetada pela atividade mineradora. Aos 17 anos, mudou-se com a família para o Paraná, onde iniciou sua trajetória como jornalista. Desde os anos 1980, tem dedicado esforços à defesa dos direitos indígenas, sendo um dos fundadores da União das Nações Indígenas (UNI) e da Aliança dos Povos da Floresta.
Desempenhou um papel crucial na aprovação da emenda constitucional referente aos direitos dos povos originários. Em 1987, durante um discurso na Assembleia Nacional Constituinte, que culminou na promulgação da atual Constituição, protestou contra o retrocesso dos direitos indígenas ao pintar o rosto com tinta preta de jenipapo.
Krenak, renomado autor com obras publicadas em 17 países, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e ocupa a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras.
(Adaptação nossa)