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Foto do escritorDee Mercês

Poema-Ponte: três poemas de Gabriela Lages Veloso

Atualizado: há 13 horas

Do Maranhão para o mundo, Gabriela Lages Veloso traz a beleza de sua escrita e a diversidade de suas experiências para a coluna luso-brasileira da Geração de 20. Confira três poemas da autora!


Poema-Ponte: três poemas de Gabriela Lages Veloso

A coluna Poema-Ponte, um elo entre a poesia de Brasil e Portugal, apresenta nesta edição a obra de Gabriela Lages Veloso. Escritora, poeta, crítica literária e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), atualmente é colunista do Imirante.com e do Feminário Conexões. Colabora com coletâneas e revistas no Brasil e no exterior. É também autora de vários livros. O último, O mar de vidro, data de 2023 pela editora Caravana.


Poema-Ponte: três poemas de Gabriela Lages Veloso:


O MAQUINÁRIO


De Mão em Mão,

peça por peça,

tudo é padrão,

Produtos. Palavras. Pessoas.

Tudo é instantâneo.


Em um piscar de olhos,

tudo é lixo.

E as Mãos recomeçam

a sua árdua tarefa,

peça por peça.

Tudo é eternamente novo.


Velocidade. Padrão. Lixo.

Antigo ciclo da novidade,

de Mão em Mão,

peça em peça.

Tudo é insuficiente.


in O mar de vidro, p.25


DAS HORAS VAGAS


A poesia se contradiz.

Abriga o universo dentro

de si, mas encontra-se

no aconchego do lar.


A poesia é um bordado

de silêncios, que está

escondido no canto azul

dos pássaros, e, no som

do mar, contido nas conchas.


A poesia é o que não acontece,

o eco insistente das horas vagas.


in O mar de vidro, p.52


A MULHER NO ESPELHO


No espelho do tempo,

vejo uma mulher.

Ela levanta com o Sol,

dança com as estrelas

e conversa com a Lua.


Ela tem muitas faces,

muitas vidas,

muitas cores.


Mas, no fundo,

é uma só.


Esse espelho deve

estar trincado

em alguns pontos,

pois muitos não

a veem, de fato.


E não é só isso.

Frequentemente,

ela pisa sobre

os cacos do mundo

que deixou para trás.


Um mundo que,

por vezes,

lhe impõe limites,

julgamentos

e rótulos.


Quando tomou

a porta dos fundos,

foi chamada de

bruxa, triste,

louca ou má.


Sua liberdade

sempre teve

um alto preço,

vejo claramente

em seu reflexo.


No espelho de Vênus,

vejo uma mulher,

ouço o eco de sua voz,

admiro seus passos.

Ela levanta com o sol.


(Poema inédito)


 

A Poema-Ponte é uma coluna quinzenal dedicada à poesia luso-brasileira, com curadoria do poeta português Pedro Albuquerque e edição do poeta brasileiro Dee Mercês. A cada edição, a coluna apresenta poetas emergentes ou com trajetórias mais consolidadas de ambos os países, promovendo um rico intercâmbio literário.



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