Jefferson Felipe é sumeense, paraibano, "Um Ser Tão Nordestino". Vive em Coimbra, militante e apologista da cultura popular nordestina, enfatizando poesia e música. Doutorando em Engenharia Informática, gestor de projetos de tecnologia "em tempo parcial" e poeta full-time no "Coletivo Baleia" (Portugal) e "Poetizando a Rotina" (Brasil). A poesia tem que se comer, e esse alimento preparamos juntos.
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Poema-Ponte: três poemas de Jefferson Felipe
SOU
*Sou Tupi, Sou Xavante, Cariri
Sou Quechua, Aymara, Tsimane
Sou Wauyuu, Emberá eu sou Kogi,
Sou Mapuche, Wichí, Yanomami
Sou Pemón, Warao, Sou Guarani
Sou Mojeño-trinitario, sou Yagán
**SOU MST, Levante, Movimentos
Sou CUT, e também sou Mães da Praça
Sou agente, que atua, e só rechaça
Todo aquele que anula meus tormentos
MTST, vamos com "Ni una a Menos"
Sou COICA, sou das Voces Ecologistas
Sou das classes, das crias ativistas
Mas se tu não é, basta lutar
Para quem me bater, vou revidar
Para que me abraçar, tem meu afeto
Quem for contra o meu povo é desafeto,
Não importa, qual o lado esteja do mar.
*Referências a povos originários de países da América do Sul.
** Referências a movimentos sociais de países da América do Sul, dos mais diversos segmentos.
in Revista Baleia n.º 4, p.25
O QUE É A POESIA?
Os aboios saudosos do vaqueiro
Pr'uma rês que no mato corre e muge;
Um poeta novato quando surge,
Já achando ser grande e ser primeiro!
E Maria varrendo seu terreiro
Nos mostrando riqueza em sua fé,
Tendo crença no Santo São José,
Quando roga pedindo à invernia...
Se o que foi dito não é poesia,
Verse e diga pra nós o que ela é?
Uma mãe que balança e cheira o filho,
Decantando a cantiga de ninar;
E o conquista fazendo o seu rimar,
Enfrentando sem medo o empecilho...
O luar do sertão com vida e brilho;
E o forró - meu autêntico arrasta-pé.
O xerém na panela com guiné
Pra matar nossa fome em demasia...
Se o que foi dito não é poesia,
Verse e diga pra nós o que ela é?
A saudade que dá quando alguém vai
Aos rincões na visão de buscar lucro;
Sem sorrisos é mesmo que um sepulcro...
E a lembrança maior: É mãe e pai.
Mas na hora que o seu salário cai...
O matuto "adquire" seu "papé."
A saudade faz ele dar olé...
E retorna feliz à moradia.
Se o que foi dito não é poesia,
Verse e diga pra nós o que ela é?
Nos suspiros que dou eu sempre vejo,
O lugar que meu ser se edificou.
Cada palmo de chão que o pé pisou,
E o sonhar que alcançar um dia almejo...
Cada luta do povo sertanejo
E o cheirinho gostoso do café.
Meu amor pelas terras de Sumé
E também Cariri, que me arrepia...
Se o que foi dito não é poesia,
Verse e diga pra nós o que ela é?
in O que é a poesia? p.162-163
HERANÇA NORDESTINA
Nos rincões da Paraíba comecei
O Cariri, o Sertão, o meu lugar!
Em Sumé a insistência foi sonhar
E sonhando, nesse espaço aqui cheguei
Intempéries no caminho enfrentei
Mas em casa eu obtive a educação
Dividir, seja a alma, seja o pão
Pois o amor é quem guia meu destino
“Sou herdeiro do povo nordestino
Trago viva a cultura do meu chão.”
Mote: Tiago de Souza
(Poema inédito)
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Poema-Ponte é uma coluna quinzenal de poesia Luso-Brasileira, com curadoria a cargo do poeta português Pedro Albuquerque e edição do poeta brasileiro Dee Mercês. Nesta coluna, estão sendo apresentados poetas emergentes ou com trajetórias mais consolidadas de ambos os países.