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Poema-Ponte: três poemas de Jefferson Felipe

Atualizado: 15 de out.

Poema-Ponte: três poemas de Jefferson Felipe

Jefferson Felipe é sumeense, paraibano, "Um Ser Tão Nordestino". Vive em Coimbra, militante e apologista da cultura popular nordestina, enfatizando poesia e música. Doutorando em Engenharia Informática, gestor de projetos de tecnologia "em tempo parcial" e poeta full-time no "Coletivo Baleia" (Portugal) e "Poetizando a Rotina" (Brasil). A poesia tem que se comer, e esse alimento preparamos juntos.


***


Poema-Ponte: três poemas de Jefferson Felipe



SOU


*Sou Tupi, Sou Xavante, Cariri

Sou Quechua, Aymara, Tsimane

Sou Wauyuu, Emberá eu sou Kogi,

Sou Mapuche, Wichí, Yanomami

Sou Pemón, Warao, Sou Guarani

Sou Mojeño-trinitario, sou Yagán


**SOU MST, Levante, Movimentos

Sou CUT, e também sou Mães da Praça

Sou agente, que atua, e só rechaça

Todo aquele que anula meus tormentos

MTST, vamos com "Ni una a Menos"

Sou COICA, sou das Voces Ecologistas


Sou das classes, das crias ativistas

Mas se tu não é, basta lutar

Para quem me bater, vou revidar

Para que me abraçar, tem meu afeto

Quem for contra o meu povo é desafeto,

Não importa, qual o lado esteja do mar.


*Referências a povos originários de países da América do Sul.

** Referências a movimentos sociais de países da América do Sul, dos mais diversos segmentos.


in Revista Baleia n.º 4, p.25



O QUE É A POESIA?


Os aboios saudosos do vaqueiro

Pr'uma rês que no mato corre e muge;

Um poeta novato quando surge,

Já achando ser grande e ser primeiro!

E Maria varrendo seu terreiro

Nos mostrando riqueza em sua fé,

Tendo crença no Santo São José,

Quando roga pedindo à invernia...

Se o que foi dito não é poesia,

Verse e diga pra nós o que ela é?


Uma mãe que balança e cheira o filho,

Decantando a cantiga de ninar;

E o conquista fazendo o seu rimar,

Enfrentando sem medo o empecilho...

O luar do sertão com vida e brilho;

E o forró - meu autêntico arrasta-pé.

O xerém na panela com guiné

Pra matar nossa fome em demasia...

Se o que foi dito não é poesia,

Verse e diga pra nós o que ela é?


A saudade que dá quando alguém vai

Aos rincões na visão de buscar lucro;

Sem sorrisos é mesmo que um sepulcro...

E a lembrança maior: É mãe e pai.

Mas na hora que o seu salário cai...

O matuto "adquire" seu "papé."

A saudade faz ele dar olé...

E retorna feliz à moradia.

Se o que foi dito não é poesia,

Verse e diga pra nós o que ela é?


Nos suspiros que dou eu sempre vejo,

O lugar que meu ser se edificou.

Cada palmo de chão que o pé pisou,

E o sonhar que alcançar um dia almejo...

Cada luta do povo sertanejo

E o cheirinho gostoso do café.

Meu amor pelas terras de Sumé

E também Cariri, que me arrepia...

Se o que foi dito não é poesia,

Verse e diga pra nós o que ela é?


in O que é a poesia? p.162-163



HERANÇA NORDESTINA


Nos rincões da Paraíba comecei

O Cariri, o Sertão, o meu lugar!

Em Sumé a insistência foi sonhar

E sonhando, nesse espaço aqui cheguei

Intempéries no caminho enfrentei

Mas em casa eu obtive a educação

Dividir, seja a alma, seja o pão

Pois o amor é quem guia meu destino

“Sou herdeiro do povo nordestino

Trago viva a cultura do meu chão.”


Mote: Tiago de Souza


(Poema inédito)



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Poema-Ponte é uma coluna quinzenal de poesia Luso-Brasileira, com curadoria a cargo do poeta português Pedro Albuquerque e edição do poeta brasileiro Dee Mercês. Nesta coluna, estão sendo apresentados poetas emergentes ou com trajetórias mais consolidadas de ambos os países.


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