top of page

Poema-Ponte: três poemas de Joana Andion

Foto do escritor: Dee MercêsDee Mercês

Atualizado: 12 de jan.

Jovem poeta portuguesa, Joana Andion traz a sensibilidade e a força de seus versos para a coluna luso-brasileira da Geração de 20. Confira três poemas da autora, incluindo um inédito inspirado em Caetano Veloso!


Poema-Ponte: três poemas de Joana Andion

A coluna Poema-Ponte, que celebra a riqueza e a diversidade da poesia em língua portuguesa, apresenta nesta edição a obra de Joana Andion. Nascida em 1996 em Lisboa, Joana é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e mestre em Direito da Propriedade Intelectual pela Universidade Carlos III de Madrid. Atualmente, exerce advocacia. A Utopia Original de se Nascer Humano (2023, By The Book) é a sua primeira obra publicada.


Poema-Ponte: três poemas de Joana Andion:


ESDRÚXULA


Hoje acordei esdrúxula

porque ontem não me soubeste pontuar.

Um dia Cleópatra, outro patética.


É o destino de sonâmbulo

que nos seus pêsames se faz público

da própria solidão.


Não sei se foi a física ou se sou mesmo eu que sou uma nódoa,

Dá-me apenas náuseas saber

que o excêntrico não te encheu as medidas.


Por isso, hoje, apesar de esdrúxula,

Espero que amanhã alguém me saiba pontuar.


in A Utopia Original de se Nascer Humano, p.19


OESTE


O Oeste vai sempre cheirar a ti.

Caminhemos para sul.


in A Utopia Original de se Nascer Humano, p.31


(SEM TÍTULO)


Ontem no concerto do Caetano

Ele cantava um amor antigo

Com carinho

Falava do sexo e do estilo

Com saudade


Falava de Augusto Campos

De Amália Rodrigues

55 anos antes

Com nostalgia


Falava da banda nova

Da banda da outra terra


Descobri que o Rio e a Bahia são a 25h de carro

E tu ainda assim te consegues fazer mais longe


Ontem no concerto do Caetano

Ele falava de rock

Falava de Gal Costa

E disse que Gal era para sempre

Ainda que já tenha morrido


Há coisas que são para sempre e que morrem

Mas não morrem.


Tal como há distâncias maiores que o Rio e a Bahia que não matam o amor.


Ontem no concerto do Caetano

Ele falava do fado

De forma pretensiosa (citando-o)

Ele falava de amor

Em todas aquelas notas, em todos os minutos daquelas duas horas e meia

Caetano não fez outra coisa a não ser falar de amor.


(Poema inédito)


 

A Poema-Ponte é uma coluna quinzenal dedicada à poesia luso-brasileira, com curadoria do poeta português Pedro Albuquerque e edição do poeta brasileiro Dee Mercês. A cada edição, a coluna apresenta poetas emergentes ou com trajetórias mais consolidadas de ambos os países, promovendo um rico intercâmbio literário entre Brasil e Portugal.



bottom of page