Joana Andion nasceu em 1996 em Lisboa. É licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e mestre em Direito da Propriedade Intelectual pela Universidade Carlos III de Madrid. Atualmente, exerce advocacia. A Utopia Original de se Nascer Humano (2023, By The Book) é a sua primeira obra publicada.
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Poema-Ponte: três poemas de Joana Andion
ESDRÚXULA
Hoje acordei esdrúxula
porque ontem não me soubeste pontuar.
Um dia Cleópatra, outro patética.
É o destino de sonâmbulo
que nos seus pêsames se faz público
da própria solidão.
Não sei se foi a física ou se sou mesmo eu que sou uma nódoa,
Dá-me apenas náuseas saber
que o excêntrico não te encheu as medidas.
Por isso, hoje, apesar de esdrúxula,
Espero que amanhã alguém me saiba pontuar.
in A Utopia Original de se Nascer Humano, p.19
OESTE
O Oeste vai sempre cheirar a ti.
Caminhemos para sul.
in A Utopia Original de se Nascer Humano, p.31
(Sem título)
Ontem no concerto do Caetano
Ele cantava um amor antigo
Com carinho
Falava do sexo e do estilo
Com saudade
Falava de Augusto Campos
De Amália Rodrigues
55 anos antes
Com nostalgia
Falava da banda nova
Da banda da outra terra
Descobri que o Rio e a Bahia são a 25h de carro
E tu ainda assim te consegues fazer mais longe
Ontem no concerto do Caetano
Ele falava de rock
Falava de Gal Costa
E disse que Gal era para sempre
Ainda que já tenha morrido
Há coisas que são para sempre e que morrem
Mas não morrem.
Tal como há distâncias maiores que o Rio e a Bahia que não matam o amor.
Ontem no concerto do Caetano
Ele falava do fado
De forma pretensiosa (citando-o)
Ele falava de amor
Em todas aquelas notas, em todos os minutos daquelas duas horas e meia
Caetano não fez outra coisa a não ser falar de amor.
(Poema inédito)
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Poema-Ponte é uma coluna quinzenal de poesia Luso-Brasileira, com curadoria a cargo do poeta português Pedro Albuquerque e edição do poeta brasileiro Dee Mercês. Nesta coluna, estão sendo apresentados poetas emergentes ou com trajetórias mais consolidadas de ambos os países.