Rita Velez Madeira nasceu no Alentejo no abrir do século. Licenciada em Ciências da Comunicação, é, atualmente, mestranda em Sociologia no Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), dinamiza atividades de educação não formal nas Oficinas do Espanto e dedica-se à exploração de cruzamentos entre a poesia e outras artes. Em 2022 publicou Os Dias Abertos com as Edições Vadia.
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Poema-Ponte: três poemas de Rita Velez Madeira
Último poema antes do silêncio
Vem pela minha mão.
Vou mostrar-te como estão
verdes os campos
e vivas as flores.
Aprenderemos a verticalidade
das árvores que nos velam,
tomaremos a liberdade do vento
para nós,
reivindicaremos a vida
que desperta enfim
de um longo sono.
Tudo valeu a pena, afinal.
E todos os cansaços e amarguras
não foram mais que uma preparação
para a alegria.
in Os Dias Abertos
Costa do Sol
Ou tu precisas de ver nascer
os pássaros
para te espantares com o voo?
Precisas de lavrar a terra
para saborear o fruto?
Virás velar a minha solidão
- o meu rosto
no espelho do ocaso
sorrindo por ti -
para crer no meu amor?
Tudo é fé.
Tudo é fé.
in Os Dias Abertos
Claro azul
Há um musgo perdido
no meu ventre
que me educa
a esperançar
os modos de sair
da cama.
É um sol taciturno
o que sempre me
colhe a consistência
do movimento,
uma luz que clama
escuta e perdão
entre vestes miúdas.
A minha nudez é
saber exatamente
onde estou.
(Poema inédito)
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Poema-Ponte é uma coluna quinzenal de poesia Luso-Brasileira, com curadoria a cargo do poeta português Pedro Albuquerque e edição do poeta brasileiro Dee Mercês. Nesta coluna, estão sendo apresentados poetas emergentes ou com trajetórias mais consolidadas de ambos os países.