Adroaldo Almeida, nascido em 09 de agosto de 1962 em Itororó, Bahia, é advogado, escritor e roteirista. Além de ter sido prefeito em sua cidade natal, possui formação em Agropecuária, Direito e Gestão Pública. Com experiência como bancário e professor, ele é casado e pai de uma filha. Adroaldo já publicou poemas, contos e romances, com obras traduzidas para o italiano e espanhol. Ele também é diretor e roteirista de três minidocumentários e um curta-metragem de ficção, além de ser o fundador do Movimento Puro Cinema Puro.
Em uma entrevista concedida ao mais recente colunista do Movimento Poético Geração de 20 e jovem escritor Enzo Santana Macedo, o renomado autor discorre sobre a integração de três obras já publicadas, que atualmente compõem a Trilogia curta da vida breve, além de abordar o regionalismo literário e compartilhar seus planos para o porvir:
O que é a criação literária para você?
Para mim, a criação literária, que é um subgênero da criação artística, é uma forma do ser humano gritar, pedir socorro. Para mim é isso. Quando eu escrevo, sinto que estou alertando o outro para o sofrimento, meu e do outro, essa eterna dor que passamos sob a terra, e as alegrias também, que acabam em dores, pois viram memórias. No meu entendimento, a criação literária é uma das formas mais belas e sensíveis de apreender a vida e segurar a eternidade.
Seu livro mais recente, Trilogia curta da vida breve, é a junção dos outros três publicados anteriormente. O que motivou a compactação dessas várias histórias num volume único?
São três romances completos: O labirinto dos bárbaros, A última flor da terra e Em busca de Júlio Pakard. Foram publicados por editoras diferentes, o mais recente pela Caravana e os dois anteriores pela Trevo. Meu editor Leonardo Costa Neto me fez essa sugestão para facilitar a demanda das histórias pelas pessoas, que vinham buscando pelos livros. Eu gosto desse formato, pois permite ver o retorno dos personagens em histórias independentes, separadas entre si.
Enquanto eu lia a trilogia, reparei numa espécie de aprimoramento de estilo e narrativa conforme atravessava o início até o fim do livro. Foi intencional da sua parte?
Algumas partes da história foram escritas lá pelos anos 1990, enquanto outras partes foram escritas hoje em dia, nos anos 2020. É um lapso temporal muito distante, então é provável que o estilo tenha evoluído mesmo, e o estilo é tudo. Eu costumo dizer que eu escrevo o mesmo livro o tempo inteiro, em contos, romances e poemas, sobre entender a existência, quando, na verdade, a vida não faz sentido; só estamos criando perguntas sem respostas. Logo, a história é sempre a mesma, mas o estilo se aprimora.
Como dito na orelha do já citado livro, você é um autor inquieto, que trabalhou e trabalha em diversos ramos além da literatura. O que motiva essa inquietação?
Eu sou assim por natureza mesmo, desde antes de isso ser considerado patologia. Tenho várias formações acadêmicas, uma extensa trajetória profissional e participação ativa em causas sociais. Fui convidado até para atuar num filme de um amigo meu em Itapetinga. Para mim, a arte é tudo, um universo etéreo, que justifica uma existência tão comezinha, tão dolorida.
Suas narrativas transitam por vários lugares e épocas, mas sempre permanecem centradas nas tantas cidades da Bahia, em especial Itororó. Qual você acredita ser a principal função desse regionalismo nas suas obras?
Isso tem muito a ver com o que você já me perguntou antes. Essa "Itororó" no mapa, eu não sinto como minha. Para mim, minha cidade mítica e literária é Itapuy, onde eu cresci, vivi e construí todo um pensamento, história e razão de ser. Eu tento explicar a história através desse pequeno espaço, esse microcosmo, porque onde tem o ser humano, tem o mundo.
Você é um homem que viveu mais no século XX do que no século XXI, e isso é transmitido nas suas obras. De que forma você acha importante a transmissão de vivências passadas na literatura moderna?
Eu entendo que literatura é só isso, você tratar do transcurso do tempo e transmitir prazer estético e alguma reflexão. A minha literatura, pelo menos, tem esse tema como exclusividade. A única coisa que me ocupa é saber o que o tempo tem feito na vida da gente, até onde caminhamos e até que ponto nosso destino biológico incontornável nos levará.
Quais são suas influências literárias? Você tem um livro ou autor favorito?
Nós temos todas as influências. Sofremos da angústia das influências, como dizia Harold Bloom. Toda a literatura ocidental me influencia, de Shakespeare a Raduan Nassar. Não tenho um livro especial. Dos romances brasileiros, gosto de Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, e São Bernardo, de Graciliano Ramos.
É possível saber uma pista sobre o seu próximo livro?
Vou ter um livro de microcontos lançado em 23 de março, no shopping Itaigara, em Salvador. Também estou terminando um romance, é em primeira pessoa e explora mais a linguagem coloquial de personagens da periferia.
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Sobre o entrevistador: Enzo Santana Macedo nasceu em Teresina–PI e passou sua infância entre Bahia e Maranhão. Seus contos foram publicados em revistas digitais renomadas, incluindo Aboio e Ruído Manifesto. Para saber mais sobre suas reflexões literárias e opiniões, ele pode ser encontrado no Instagram: @enzo_santana_macedo.
Edição: Dee Mercês
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