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Poesia, Chama-me: dois poemas de Marduda

  • Foto do escritor: Dee Mercês
    Dee Mercês
  • 12 de mar.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 21 de mar.

A jovem poeta baiana Marduda explora em seus poemas a conexão com a fé, a ancestralidade e o poder purificador da água.


Poesia, chama-me: dois poemas de Marduda

Marduda, nascida em 2004, em Feira de Santana, Bahia, é estudante de Letras - Português na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e dedica-se à poesia nas horas vagas.


Poesia, Chama-me: dois poemas de Marduda:


ADUPÉ


No dendê do ilê

Assentei tanto amor

Que me haviam tomado

Foi no abraço apertado

Na taça e cartola

Que aceitei meu legado


Me contaram que não

Que não pra mim

O que é certo

E o que é errado


Mas me aquilombar

Na ternura e carinho

Trilhou meu caminho


Entre o santo e o profano

Eu prefiro a armadura

Que você me dá

É naquela fumaça

Que esqueço do mundo

E começo a pensar


Entre o disse e me disse

Eu evito o ejó

Para não me trasbordar

Daquilo que não é meu

Do que não me pertence

Para me preservar


Obrigada, Bahia

Obrigada, minha fé

Obrigada, axé

Modupé.


PURIFICAÇÃO


Descobri que a água limpa,

Quando ela levou meus cacos

E lavou meu corpo


Deixando apenas a textura da areia

E a quentura do sol

Queimando os meus medos e suspiros

Que nasceram das mágoas

Dos dias passados

E pessoas não esquecidas


Descobri que a água limpa

Quando em meio a tanta turbulência

Senti o cheiro de maresia

Enquanto flutuava e o peso das costas fugia

Enquanto a maré subia e o pior descia

Eu encontrei no mar

O que minha alma pedia


Talvez Djavan esteja certo

Quando se deságua em alguém

Sua essência se respinga

E sua carência se extingue

A utopia do querer não limita

Nem imita

Ela inspira

A existência e resistência de outros oceanos


Só se afoga quem não enxerga a água na sua total fluidez

A renovação dos ciclos se faz presente

Todo tempo, todo instante

É importante saber nadar


Para não boiar na maré alta

Se não entende, a onda leva.


 

Poesia, Chama-me é uma coluna que ecoa a voz pulsante da poesia baiana contemporânea. Mergulhe em versos que transcendem o óbvio e revelam a alma do nosso tempo, com curadoria do poeta machado X de Jesus e edição do poeta Dee Mercês.



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