Nova coluna da Geração de 20 celebra a revista Hera e propõe uma jornada poética e pessoal em busca de conexões com o presente. Na estreia, uma página em branco e um convite à reflexão.

A estreia desta coluna nasce da minha profunda admiração pela revista Hera, periódico literário que inspirou a Geração de 20, movimento que transformou a cena cultural de Feira de Santana a partir da década de 1970. Tendo sido aluno do professor Roberval Pereyr, um dos pilares da Hera, meu fascínio por essa publicação só se intensifica a cada página virada.
Neste verão que marca a metade da década de 2020, minha voz interior me chama para uma jornada de autoconhecimento como nunca senti antes. Sinto uma sede imensa de mergulhar em mim mesmo, de me redescobrir através da poesia. Quem é ou já foi evangélico sabe o que é pedir uma palavra ao Senhor, abrir a Bíblia aleatoriamente, escolher um versículo e se reconhecer na sua mensagem. Decidi fazer esse movimento com a minha "Bíblia" poética: a edição fac-símile da revista Hera.
Com o exemplar em mãos, fechei os olhos, encostei-o na região do meu "terceiro olho" e, em um sussurro mental, pedi que a Hera me guiasse por meio de um de seus poemas. Sem preferência por autor(a) ou tema, apenas a ânsia de encontrar um verso que ressoasse com a minha alma. Abri o livro aleatoriamente, e a página 610 se revelou diante de mim. Para minha surpresa, um vazio me encarava de volta. Nenhuma linha, nenhuma letra, apenas o branco imaculado do papel...

Não me senti frustrado, pelo contrário, uma onda de curiosidade me invadiu. Seria esta a mensagem da Hera para mim? Um convite a decifrar o silêncio, a encontrar a poesia nas entrelinhas da vida? Lembrei-me então das palavras de Guimarães Rosa: "O que a vida quer da gente é coragem". E se a coragem se manifestasse, neste momento, na capacidade de encarar o vazio, de acolher o silêncio e escutar a voz da intuição? A página em branco, antes um enigma, transformou-se em um espelho. Refletiu a minha própria busca por respostas, a minha vontade de me reinventar, de escrever a minha história.
Folheando a Hera: Dee Mercês encontra inspiração no vazio e na intuição
Assim como a página em branco da Hera, a vida também nos apresenta, vez ou outra, seus momentos de vazio. Momentos de pausa, de reflexão, de recomeço. É nesses instantes que a intuição se torna o nosso guia, e a coragem, a nossa bússola. Para navegar por esses momentos, é preciso confiar na intuição. Ela é a voz da nossa alma, a sabedoria que nos guia pelas melhores escolhas, pelos caminhos mais alinhados com a nossa essência. Prestemos atenção aos nossos sentimentos, às nossas sensações, às nossas percepções. A intuição nos conduzirá.
Lembremo-nos também do nosso potencial infinito. Assim como a página em branco, nós temos o poder de criar a nossa própria realidade. Acreditemos em nós, nos nossos talentos, nas nossas capacidades. Ousemos ir além dos nossos limites e exploremos novos horizontes. Que a nossa intuição nos guie para manifestar todo o nosso potencial!
Para nos ajudar a manter o foco nessas duas palavras-chave, intuição e potencial, que tal criarmos um mantra para o nosso dia? Algo como: "Eu confio na minha intuição e me abro para manifestar o meu potencial infinito." Repitamos esse mantra ao longo do dia, sempre que precisarmos nos conectar com a nossa força interior.
A Hera, publicada em plena ditadura militar, nos mostra que mesmo em tempos obscuros, a poesia e a arte podem florescer. Seus versos ecoam a beleza e a resistência de uma geração que ousou sonhar e lutar por um futuro melhor. E hoje, meio século depois, a Hera continua a nos inspirar. Seus poemas nos convidam a revisitar o passado, a questionar o presente e a construir um futuro mais justo e humano.
Que esta página em branco, portanto, seja um símbolo de esperança. Um lembrete de que, mesmo diante do desconhecido, temos o poder de criar, de transformar, de dar vida à nossa própria poesia. Convido você, caro leitor, a folhear a Hera comigo. A se aventurar pelas páginas desta revista que, assim como a vida, nos reserva surpresas e nos convida a encontrar a beleza nos lugares mais inesperados. E que, ao final desta jornada, possamos todos descobrir a poesia que brota do vazio, a força que nasce da quietude, a luz que emana da escuridão.
A coluna Folheando a Hera é reflexo de uma jornada poética e pessoal percorrida por Dee Mercês pelas páginas da revista Hera, em busca de inspiração, reflexão e conexões com o presente. A cada edição, um novo poema (ou não), um novo mergulho no passado e um convite para reler a história e a nós mesmos.