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Folheando a Hera: "À Guisa de Réquiem" - entre o rio e o mar, a busca por um réquiem para a alma

Foto do escritor: Geração de 20Geração de 20

Na segunda edição da nossa coluna "Folheando a Hera", convido você, estimada pessoa leitora, a se juntar a mim em uma viagem poética pelas páginas da revista, desta vez em busca de um "Réquiem", um descanso para a alma.


Em minhas andanças pela edição fac-similar, meus olhos pousaram sobre o poema "À Guisa de Réquiem", de Wilson Pereira de Jesus, na página 527. O título, por si só, já me instigou a desvendar os seus mistérios. "Guisa", um termo que hoje soa incomum, significa "maneira" ou "modo", conferindo ao título um tom formal e elegante. "Réquiem", por sua vez, remete a uma missa fúnebre, um canto para os mortos.


Folheando a Hera: "À Guisa de Réquiem" - entre o rio e o mar, a busca por um réquiem para a alma
Wilson Pereira de Jesus

Logo na primeira estrofe, o eu lírico nos convida a adentrar em seu mundo de sensações e emoções. A interjeição "Ah!" ecoa por entre os versos, ora expressando a contemplação de "movimentos de braços no espaço", ora revelando um saudosismo profundo por um "perdido pensamento" que gerou um "tom lunático na alma". A imagem do "símbolo de rosas cravado no peito" intensifica a sensação de nostalgia e a busca por algo que se foi.


Na segunda estrofe, a nostalgia se aprofunda no desejo de "retornar às águas passadas e contemplar o mesmo rio duas vezes". O rio, em constante movimento, simboliza a transitoriedade da vida e a impossibilidade de reviver o passado exatamente como ele foi. Mesmo que o cenário natural evoque uma atmosfera de serenidade, com a "brisa leve sem nome e sem destino" entre as águas e a montanha, os versos finais nos confrontam com a inconstância da existência: "sobre um mar que nunca vem na mesma vaga".


Esses versos, "sem nome e sem destino / sobre um mar que nunca vem / na mesma vaga", nos transportam para a imensidão do mar, metáfora da existência coletiva, com suas ondas que se formam e se desfazem, representando a efemeridade dos momentos.


A terceira estrofe, por sua vez, nos mergulha na complexidade dos sentimentos humanos diante da finitude. A "sensação de queda, lenta erosão" evoca a perda de controle e a fragilidade do corpo, enquanto o "movimento último, suspiro" sugere a iminência da morte. A "tristeza mudez mistérios" revela o silêncio e a angústia que acompanham a finitude.


A segunda parte da estrofe nos confronta com a contradição e a ambiguidade da experiência humana. A vontade de "findar o amor" e "de matar e me matar, e não morrer" expressa um conflito interno intenso. A "solidão maior de não ter por completo / revolvido no leito os pensamentos" revela a angústia por não conseguir compreender ou resolver os conflitos internos antes do fim.


"À Guisa de Réquiem" nos convida a refletir sobre a complexidade da vida, a inevitabilidade da morte e a busca por sentido em meio à finitude da existência. O "réquiem/descanso" pode ser visto não como um fim em si mesmo, mas como um processo de transformação e transcendência. O eu lírico, mesmo após a morte, continua a sua jornada em busca de compreensão e significado.


Assim como o eu lírico de Wilson Pereira de Jesus, nós também buscamos sentido em meio às incertezas da vida. E a poesia, como um farol a nos guiar, nos convida a explorar as profundezas da alma humana e a encontrar beleza nos lugares mais inesperados.


Que "À Guisa de Réquiem" nos inspire a abraçar a impermanência da vida, a aceitar os ciclos de transformação e a encontrar beleza nos momentos de quietude e introspecção. Assim como o eu lírico busca sentido em meio à finitude, que possamos encontrar na poesia e na arte a força para transformar a dor em beleza e a ausência em possibilidade. Afinal, a Hera nos ensina que, mesmo diante do vazio, a poesia pode florescer e nos guiar em direção à luz.


 

A coluna Folheando a Hera é reflexo de uma jornada poética e pessoal percorrida por Dee Mercês pelas páginas da revista Hera, em busca de inspiração, reflexão e conexões com o presente. A cada edição, um novo poema (ou não), um novo mergulho no passado e um convite para reler a história e a nós mesmos.




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