"A vida é minha maior inspiração", revela Itamar Vieira Junior em entrevista exclusiva à Geração de 20
- Dee Mercês
- 14 de fev.
- 4 min de leitura
Enzo Santana Macedo entrevista Itamar Vieira Junior, um dos maiores expoentes da literatura brasileira contemporânea

Reconhecido em vários países, Itamar construiu o próprio sucesso com seus livros que possuem uma visão única e sensível sobre as comunidades afro-indígenas baianas e foram multipremiados. Torto Arado, a obra mais conhecida do referido autor, venceu a edição de 2020 do Prêmio Jabuti; Salvar o Fogo, a continuação, venceu a edição de 2024.
Além de escritor, Itamar é geógrafo e possui doutorado em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); trabalha no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Sua função laboral já lhe rendeu ameaças de morte, mas, principalmente, proporcionou-lhe inspiração para o fazer literário, que foi cultivado desde a infância e tem se estendido para todos os públicos.
A seguir, confira as opiniões do autor:
Como é lidar com os benefícios e consequências de tanto reconhecimento?
— Para mim nada mudou. Acho que mudou para os que acompanham a literatura, críticos, professores, agentes do mercado editorial. Meu interesse pela literatura é o mesmo e não se profissionalizou. Deixo-me guiar pela intuição que sempre me conduziu aos caminhos da escrita.
Antes das premiações e do estouro de vendas, você já publicava em editoras menores. Qual é o maior contraste entre esse sistema e o sistema atual?
— As editoras menores são responsáveis por retirar originais das gavetas, textos que ocasionalmente não teriam chance em grandes editoras. Publicar numa grande editora nos permite circular com nosso trabalho, permite que cheguemos a lugares que nunca chegaríamos de outra maneira.
Sabe-se que você escreve desde a infância. Como foi a descoberta e o desenvolvimento desse talento?
— Passei a escrever porque, desde cedo, lia histórias belas e inquietas, que me permitiam sonhar. Essas histórias também me ajudaram a conhecer a mim e as pessoas à minha volta. O passo seguinte foi tentar reproduzir de maneira inconsciente aquele mundo de beleza e horror que me dizia a todo momento que eu era humano.
Em relação às suas vivências, formação e trabalho no INCRA, como tudo isso se converte em literatura? Há um método específico ou tudo flui naturalmente?
— A escrita literária se equilibra em três pilares: na memória, na observação e também na imaginação. Trabalhar no campo me permitiu observar a vida para descrevê-la tal e qual a via. Era uma maneira de transmitir a riqueza daquele mundo aos leitores. Não há método, mas uma consciência que guia o fazer literário.
Existe uma forma concreta, ou seja, menos subjetiva, da literatura contribuir para as mudanças sociais?
— Não. Toda a contribuição que a literatura pode dar é subjetiva, intangível, mas não menos importante.
Se te perguntam sua principal inspiração literária, qual é sua resposta imediata?
— A vida.
Seu lançamento mais recente, Chupim, mantém a temática social dos livros anteriores, mas renova o público, dessa vez infantil. Por quê?
— Não existe vida à parte do meio social e histórico em que vivemos, o que significa que nossas vidas são atravessadas pelo mundo, um acúmulo de história e tempos que nos conformam.
Por fim, que mensagem você dá para os novos escritores?
— Escrevam, leiam, sigam sua intuição. Literatura se faz com razão e com emoção, então, encontrem suas dimensões subjetivas para escrever suas histórias.
A literatura de Itamar Vieira Junior se destaca por sua capacidade de transcender o entretenimento e promover reflexões profundas sobre a sociedade. Ao longo desta entrevista, o autor nos revela que sua escrita é fruto de um olhar atento sobre o mundo, nutrido pela memória, pela observação e pela imaginação.
Sua experiência como geógrafo e servidor do INCRA, como ele mesmo relata, proporcionou-lhe um contato íntimo com a realidade social brasileira, especialmente com as comunidades marginalizadas. Essa vivência se traduz em uma escrita que busca dar voz àqueles que historicamente foram silenciados, revelando a riqueza e a complexidade de suas experiências.
Itamar Vieira Junior nos convida a mergulhar em narrativas que nos confrontam com as desigualdades, as injustiças e os desafios do nosso tempo. Sua literatura, no entanto, não se limita à denúncia. Ela também nos revela a beleza, a força e a resiliência dos personagens que habitam suas histórias.
Ao compartilhar suas reflexões sobre o papel da literatura na sociedade, o autor nos inspira a acreditar no poder da palavra como ferramenta de transformação. Sua mensagem para os novos escritores, para escreverem, lerem e seguirem sua intuição, é um incentivo para que cada um encontre sua própria voz e contribua para a construção de um mundo mais justo e humano.
Compartilhe esta entrevista e ajude a difundir a obra de um autor que, com sua escrita sensível e engajada, nos convida a repensar o nosso papel no mundo e a construir um futuro mais promissor para todas as pessoas.
A coluna "Entrementes, entrevistas" traz conversas com escritores e escritoras brasileiras, conduzidas pelo jovem escritor piauiense Enzo Macedo e editadas pelo poeta baiano Dee Mercês. A coluna explora o panorama literário contemporâneo do país, apresentando autores e suas obras ao público da Geração de 20.