Bruna Moura é uma bióloga, artista e futura pesquisadora científica. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), com pós-graduação em Biotecnologia Ambiental e formação técnica em Meio Ambiente, ela transita entre a ciência e a arte, expressando sua criatividade em diversas formas, como artes visuais, performance e literatura. Atua como ilustradora desde 2016 e se prepara para iniciar sua jornada como pesquisadora científica, unindo seus conhecimentos em biologia à sua paixão pela arte e pela natureza.
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Quando o Poema Atravessa o Peito: três poemas de Bruna Moura
O EU, QUE NINGUÉM VÊ
Eu sou o vento que balança meus cachos,
Eu sou o calor que queima minha pele preta.
Eu sou o suor que desce pelo meu corpo,
Eu sou a dor que percorre minha alma,
Eu sou a cura que a restaura,
Eu sou o vendaval que me tira da direção.
Mas quem disse que é a direção certa?
Eu sou a chuva que coloca tudo, tudo em seu devido lugar,
Eu sou o fogo que devasta e destrói!
Destrói cada átomo!
Afinal, o campo de rosas vermelhas e girassóis vibrantes,
Nem sempre terá o mesmo cheiro agradável...
Um dia terão o cheiro da fumaça.
E aí, eu serei tempestade, apagarei o fogo,
Cessarei o cheiro da fumaça,
Atravessarei raios de luz, clarões e sons ensurdecedores no céu,
Mas a raiva reinará, os campos de rosas e girassóis foram
Destruídos por mim, só por mim...
Há esperança? Sim? Não?
Não sei!
Talvez o solo já esteja infértil.
Talvez não haja mais o que fazer;
TALVEZ, TALVEZ, TALVEZ, o talvez é só uma possibilidade,
E existem milhões!
Finalmente, eu sou mata, que protege os rios e alimenta os animais,
Eu sou animal selvagem, livre! Destemido! Forte!
Eu sou um pequeno filhote, perdido! Com medo! Assustado!
Eu sou a terra, que sustenta os pés da humanidade,
E as árvores que nos dão frutos!
Eu sou a humanidade, com todos os meus defeitos, medos e inseguranças.
E antes de tudo, sou o meu ser, o meu eu, o meu tudo,
Meu amor, minha vitória, minha derrota, meu sucesso, minha alma...
Eu sou todas as partes de mim, todas as minhas partes unidas.
Tu és você com todas as partes de ti, todas as suas partes unidas!
Podes causar, mas também podes curar.
OOH, PRETA!!
Preta!
Mexe com meu coração, como tu se mexe na dança;
Preta!
Não cansa não, por favor, não cansa,
Preta!!
Chega aqui, me abraça; mas muito cuidado!
Preta!
Chega aqui, me beija!
Tu não tens noção de como me deixas.
Preta!
Só sorri!!
Calma! Calma...
Esquece...
Não sorri não!
Teu sorriso é uma perdição.
Mas, espera, estou indecisa,
Nem sorrir precisa.
Já me perdi.
O FIM
A Terra é como uma lata gigante,
Diria várias latas de lixo reciclável
Além do rejeito, é claro.
Não dá para reaproveitar tudo.
Falo de você, de nós.
Há quem reclama do calor,
Há quem reclama do frio,
Há quem reclama.
Há quem questiona?
Parece mentira, a ideia de que tudo vai acabar,
Mas já se acabaram tantas e tantas vezes.
Somos restos de lutas passadas,
Somos o que sobrou.
NADA.
Nada mais, nada menos do que nada.
E uma pergunta ecoa:
Até quando?
Mas que exagero!
A humanidade não é um nada.
CLARO, ELA NÃO É SÓ NADA.
Também é tudo, tudo que a Terra não precisava.
Nossa, que extremista!!
Não funciona assim.
CLARO QUE NÃO, SOMOS NECESSÁRIOS.
Eu concordo. A não ser quando não somos.
Que droga de poema, né?
Tudo bem!
Logo ele também não será nada.
Ou será?
Acho que só mais um papel na lixeira azul.
Minhas palavras não valerão de nada.
Eu não serei nada.
Talvez, adubo.
Fortificarei o solo, brotará esperança
Novos seres racionais o dominarão,
E dessa história, você já sabe o fim.
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Quando o poema atravessa o peito foi uma coluna semanal de poesia brasileira contemporânea com curadoria do poeta baiano Gustavo Anjos e edição do poeta Dee Mercês. A coluna destacou poetas em ascensão ou com trajetórias estabelecidas, tanto na Bahia quanto em todo o Brasil.