Luana Andrade, escritora e acadêmica em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), campus VI (Caetité), conquistou o prêmio Prize Of Arts em 2023 pela poesia Clother Versus Be Me. É autora de Na Luta Estou, sobre patriarcado e representatividade feminina, e lançará em 2024, em Buenos Aires, seu segundo livro, Luar, que abordará razão e emoção.
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Quando o Poema Atravessa o Peito: três poemas de Luana Andrade
Ô mãe!
Ô luar, vim banhar no teu manto,
Vim beber da tua luz,
Vim renovar minhas forças,
Vim porque me chamas, tu me chamas!
Eu estou aqui, bem no centro.
Ouço a tua voz muito distante,
Lá no íntimo,
Perdida na mata,
Escondida entre as folhagens,
Mas eu sinto a tua presença.
Tuas raízes
Ô mãe!
Ô manto sagrado que rege em mim,
Nas minhas pétalas,
Sou apenas uma mudinha dos teus ancestrais,
Tu resplandece aqui dentro.
Sinto...
Eu sinto a tua energia,
O manto me banhar
A tua pureza como luar
Me lava
Me purifica
Ô mãe natureza!
Ô raio luar!
Sigo os teus chamados
Sigo as suas filhas
Porque sou uma delas.
O trocar das tuas folhas,
O romper das tuas raízes,
O crescer dos teus galhos,
O verde da esperança espalhado,
O colorido das tuas flores,
O zumbido das tuas abelhas.
Rainha! Rainha!
Folhas, flores, raízes, galhos, abelhas desenhados em meu corpo.
Sabe quem eu sou?
O manto sagrado feminino:
Sou filha da mata
Sou neta da lua
Sou a mandala
Desenhada na parede,
Esquecida por aqueles sem sentimentos,
Apreciada por aqueles olhares sensibilizados femininos.
Sou a mulher
Com a alma da floresta
Plantada no centro da cidade.
Frio
Tua frieza cortante
Massacra a vontade de te ter.
Entre a angústia do querer
E o peso de perder.
Estou vasta
Pela solidão.
Apegada no farrapo da saudade,
Sufocada pela imensidão.
Melancólica é a dor
Querer? E o medo de ter?
O frio do ser
versus
o calor do teu corpo
É a recompensa que pago
Por persistir em ti,
Ao invés de partir.
Roda Gigante
Não importa o caos
Ou o acaso,
Sempre chegam ao fim.
É nítido o quanto é vasto,
E o quanto é dolorido ver partir.
Quando se trata de afastar,
Vamos nos desapegando aos poucos.
As conversas já não têm o mesmo vigor,
Os toques já não arrepiam os corpos.
Os encontros já não satisfazem as almas,
Quando solitário se torna, mesmo juntos.
É um novelo que vai perdendo o fio da meada
Até chegar ao fim:
Se torna estranho
Quem um dia foi o motivo de tantos planos.
Os melhores momentos
São lembranças distantes.
E assim, fechamos ciclos
Com pessoas que um dia nos arrancaram verdadeiros sorrisos.
Pessoas vem e vão
Em uma vasta roda gigante.
Com propósito ou sem,
A roda não para,
A vida apenas passa.
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Quando o poema atravessa o peito é uma coluna semanal de poesia brasileira contemporânea com curadoria do poeta baiano Gustavo Anjos e edição do poeta Dee Mercês. A coluna destaca poetas em ascensão ou com trajetórias estabelecidas, tanto na Bahia quanto em todo o Brasil.