Maria Isabel Ribeiro é uma estudante de graduação em Letras, com ênfase em Língua Portuguesa e Literaturas, pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ativa em diversos eventos literários, ela também colaborou como coautora em obras como "Ser-tão abençoado", "O grito delas" e "Elos poéticos". Destacou-se ao conquistar o primeiro lugar no concurso Tempos de Artes Literárias (TAL). Desde então, Maria Isabel continua a escrever poemas que abordam uma variedade de temas, revelando as múltiplas facetas de sua expressão autoral.
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Quando o Poema Atravessa o Peito: três poemas de Maria Isabel Ribeiro
Falatório
Gourmetizaram o preconceito
Romantizaram a favela
Hoje o negro é divido
Entre raiz e nutella
Hoje o negro até tem voz
Mas continua sem vez
Alguns falam tanto de privilégios
Queria ver se fosse um de vocês
Descriminado pela cor
Pelo modo de falar
Pelo modo de vestir
Pelo modo de pensar
Hoje é tudo mimimi
Bando de hipócritas
Na TV é igualdade
Mas na real ainda vejo o Chicote - quando não é um tiro - nas costas
"Na favela só tem bandido"
Dizem os almofadinhas
Que não sobrevivem sem a empregada
Que mora la na Rocinha
Fala mal da comunidade
Mas lá nunca pisou
Estão de fora realidade
E dos sentimentos de medo e terror
Fala que cota é esmola
Mas nunca enfrentou a dificuldade
De ser negro num país racista
E quase não ter oportunidade
Fala, fala e fala
Você só sabe falar?
Inventaram até onda do tal racismo reverso
Mas teu preconceito disfarçado de ignorância
Que deveria te envergonhar
Fala do cabelo, do corpo
Da boca carnuda
Mas não para de fazer procedimentos
Nas clínicas cirúrgicas
Fala até do que nunca passou
Fala o que é preconceito
Fala de igualdade
Mas não tem respeito o mínimo de respeito
Ainda por cima fala
Que no Brasil não tem racismo
Pra vc deve ser fácil
Já que não convive com isso
Te deixo aqui um conselho
Para de falar do que não sabe
Respeito é bom e todos gostam
Respeite a afrodiversidade!
Poema de amor
De amor, quero encher-te o seio
Que anseio mais ainda te beijar
Teu corpo tal qual bela arte
Me entregas sem nenhum receio
De saudade, não quero a morte
Por sorte, que estou seguro
De que em teus braços não vejo apuro
Por tua mão que me segura forte
Da paixão, quero o ardor mundano
Insano, visto que me ampara
De tanto amor, já quebrei a cara
Mas teu amor não me parece engano
Do momento, quero teu abraço
Laço terno que em mim desperta
Sorriso brando, que me deixa alerta
Deste olhar certo, que me arranca pedaço
Quem sabe
E mesmo assim
Eu vou tocando em frente
Não penso em voltar atrás
E não posso voltar atrás
Necessito seguir
Encontrar-me
Conhecer-me
Entender-me
Quem sabe
Nas esquinas dos bares
No meio das praças
Ou nos versos de um poema
Quem sabe...
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Quando o poema atravessa o peito é uma coluna semanal de poesia brasileira contemporânea com curadoria do poeta baiano Gustavo Anjos e edição do poeta Dee Mercês. A coluna destaca poetas em ascensão ou com trajetórias estabelecidas, tanto na Bahia quanto em todo o Brasil.