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Foto do escritorDee Mercês

Quando o Poema Atravessa o Peito: três poemas de Maria Isabel Ribeiro

Atualizado: 8 de out.

Quando o poema atravessa o peito: três poemas de Maria Isabel Ribeiro

Maria Isabel Ribeiro é uma estudante de graduação em Letras, com ênfase em Língua Portuguesa e Literaturas, pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ativa em diversos eventos literários, ela também colaborou como coautora em obras como "Ser-tão abençoado", "O grito delas" e "Elos poéticos". Destacou-se ao conquistar o primeiro lugar no concurso Tempos de Artes Literárias (TAL). Desde então, Maria Isabel continua a escrever poemas que abordam uma variedade de temas, revelando as múltiplas facetas de sua expressão autoral.


***


Quando o Poema Atravessa o Peito: três poemas de Maria Isabel Ribeiro



Falatório


Gourmetizaram o preconceito

Romantizaram a favela

Hoje o negro é divido

Entre raiz e nutella

Hoje o negro até tem voz

Mas continua sem vez

Alguns falam tanto de privilégios

Queria ver se fosse um de vocês

 

Descriminado pela cor

Pelo modo de falar

Pelo modo de vestir

Pelo modo de pensar

Hoje é tudo mimimi

Bando de hipócritas

Na TV é igualdade

Mas na real ainda vejo o Chicote - quando não é um tiro - nas costas

 

"Na favela só tem bandido"

Dizem os almofadinhas

Que não sobrevivem sem a empregada

Que mora la na Rocinha

Fala mal da comunidade

Mas lá nunca pisou

Estão de fora realidade

E dos sentimentos de medo e terror

 

Fala que cota é esmola

Mas nunca enfrentou a dificuldade

De ser negro num país racista

E quase não ter oportunidade

Fala, fala e fala

Você só sabe falar?

Inventaram até onda do tal racismo reverso

Mas teu preconceito disfarçado de ignorância

Que deveria te envergonhar

 

Fala do cabelo, do corpo

Da boca carnuda

Mas não para de fazer procedimentos

Nas clínicas cirúrgicas

Fala até do que nunca passou

Fala o que é preconceito

Fala de igualdade

Mas não tem respeito o mínimo de respeito

 

Ainda por cima fala

Que no Brasil não tem racismo

Pra vc deve ser fácil

Já que não convive com isso

Te deixo aqui um conselho

Para de falar do que não sabe

Respeito é bom e todos gostam

Respeite a afrodiversidade!



Poema de amor


De amor, quero encher-te o seio

Que anseio mais ainda te beijar

Teu corpo tal qual bela arte

Me entregas sem nenhum receio

 

De saudade, não quero a morte

Por sorte, que estou seguro

De que em teus braços não vejo apuro

Por tua mão que me segura forte

 

Da paixão, quero o ardor mundano

Insano, visto que me ampara

De tanto amor, já quebrei a cara

Mas teu amor não me parece engano

 

Do momento, quero teu abraço

Laço terno que em mim desperta

Sorriso brando, que me deixa alerta

Deste olhar certo, que me arranca pedaço



Quem sabe


E mesmo assim

Eu vou tocando em frente

Não penso em voltar atrás

E não posso voltar atrás

 

Necessito seguir

Encontrar-me

Conhecer-me

Entender-me

 

Quem sabe

Nas esquinas dos bares

No meio das praças

Ou nos versos de um poema

 

Quem sabe...



***


Quando o poema atravessa o peito é uma coluna semanal de poesia brasileira contemporânea com curadoria do poeta baiano Gustavo Anjos e edição do poeta Dee Mercês. A coluna destaca poetas em ascensão ou com trajetórias estabelecidas, tanto na Bahia quanto em todo o Brasil.


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